Frente Ampla 25 de Abril

Recapitulando
Por José Cavalheiro
A segunda guerra da  Ucrânia foi iniciada há dois anos com a invasão russa do país. Desde essa data a comunicação social passou a ser veículo quase exclusivo duma narrativa que transformou  grande parte da nossa população numa espécie de claque que reagia violentamente contra qualquer tentativa mais exigente do que considerar o conflito como uma guerra entre os bons, defensores da democracia, e dos chamados valores ocidentais, e o maus, chefiados por um ditador louco.
A primeira fraude foi escamotear que em Fevereiro de 2022 havia já contabilizados cerca de 16 mil mortos, visto que existia há oito anos uma guerra em curso, a primeira guerra da Ucrania (2014-2022).
Apesar disso seria do mais elementar bom senso admitir, que pelo facto do regime russo ser dominado por um ex KGB e por uma máfia de grandes oligarcas que se apropriaram dos despojos da União Soviética, isso não conferia automaticamente a qualquer opositor desse regime um estatuto de defensor da humanidade.
Historicamente muitas guerras foram travadas entre protagonistas que nada tinham de recomendável, e que simplesmente agiram motivados por interesses antagónicos; este facto deveria aconselhar a que a invasão da Ucrânia fosse encarada com seriedade e se procurasse perceber quais as origens do conflito, condição essencial para encontrar uma solução para o problema.
A verdadeira lavagem ao cérebro impediu muita gente de ultrapassar o emocional e de considerar uma única solução: a vitória da Ucrânia sobre o exárcito russo, com reconquista dos territórios ocupados, incluindo a Criméia, mesmo que isso se faça à custa da vida de muitas dezenas ou centenas de milhares de mortos.  
Para justificar as dezenas de milhares de euros investidas, foi montada em 2023 uma gigantesca fraude: durante meses foram anunciados os sucessivos sucessos da contra ofensiva ucraniana, apesar dos mapas do ISW, um instituto americano, todos os dias mostrarem que esses supostos ganhos territoriais eram irrelevantes no mapa.
Entretanto, as consequências diretas e indiretas da guerra estão a provocar fissuras no projeto europeu, levaram à estagnação económica da Alemanha e têm contribuído para a ascensão da extrema direita.
No aniversário da invasão, parece importante lembrar o que foi escrito sobre a Ucrânia, quando os jornalistas podiam escrever sobre o tema com bases objetivas, sem serem dominados pela narrativa única. Olhando para a comunicação social no dia de hoje parece que a histeria eufórica do ano passado apenas foi substituída pela histeria triste; negar a realidade pode sair muito caro, e não é falsificando a História que construiremos um futuro melhor.
Os valores europeus estão em saldo, e uma prova disso é a miserável resposta ao genocídio dos palestinianos. Seguem-se excertos dum artigo do Público de 2020, e em anexo o artigo completo; o jornalista já não trabalha no Público.
 

Ucrânia


 

O campo de treino militar para a extrema-direita mundial


Ricardo Cabral Fernandes - Público - 21 de Junho 2020
"A Ucrânia é hoje um dos principais pólos de atracção para a extrema-direita inter- nacional e quase quatro mil estrangeiros de 35 países já receberam treino e comba- teram nas na Guerra Civil Ucraniana. Uma delas, o Regimento Azov, transformou-se num alargado movimento, criou um Estado dentro do Estado ucraniano, estendeu tentáculos por toda a Europa e quer criar uma Legião Estrangeira ucraniana."
“A Ucrânia é a porta das traseiras para a União Europeia no que à extrema-direita diz respeito, e a ameaça é muito grande. Os indivíduos recebem treino nos campos de batalha ucranianos e depois regressam aos seus países de origem”.
Um movimento tentacular
"O Regimento Azov nasceu no início da Guerra Civil Ucraniana, em 2014, e transformou-se num alargado movimento com um partido e várias organizações, de milicianos de rua a associações de veteranos. Infiltrou-se no aparelho de Estado ucraniano e, hoje, é indissociável dele[...]"
"A realidade é ainda mais preocupante se se tiver em conta o número de combatentes estrangeiros identificados no mesmo relatório que já lutaram na guerra que opõe o Estado ucraniano aos separatistas pró-russos: um total de 17.241. Destes, 3879 estrangeiros, dos quais 879 de 36 países[...]"
"A extrema-direita ucraniana já tinha saído das margens da política quando a Revolução EuroMaidan, contra o Presidente ucraniano Viktor Ianukovich, tomou as ruas de Kiev em 2013. Ianukovich, aliado do Presidente russo, Vladimir Putin, foi deposto e, pouco depois, em Março de 2014, Moscovo anexou a Crimeia e apoiou os separatistas de Donetsk e Lugansk, dando início a uma guerra que ainda hoje se arrasta e que já causou mais de 13 mil mortos, entre os quais muitos civis, e milhares de deslocados. foram formados entre 30 e 40 batalhões de voluntários para combater os separatistas."
"Um dos homens por trás deste esforço foi o oligarca Ilhor Kolomoiski, um dos dois homens  mais ricos da Ucrânia e a sombra do Governo de Poroshenko e, agora, do de Zelenskii[...]"
Infiltração no aparelho de Estado "O Movimento Azov infiltrou-se no Estado ucraniano e é hoje indissociável dele. Recebe milhares de euros em financiamento para programas de incentivo ao patriotismo direccionado à juventude (crianças com nove anos recebem treino militar, por exemplo), apoio político e militar."
  https://www.publico.pt/2020/06/21/mundo/noticia/ucrania-campo-treino-militar-extremadireita-mundial-1921065

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